Era uma vez, num reino muito, muito longe, a muitas e muitas palavras de distância, um conto-de-fadas bem pequenino que queria ser romance. Mas não um desses romances que não param em pé na estante. Queria ser um Romance! O pobrezinho não era muito bem pontuado — era até meio feio —, mas vivia suspirando e sonhando, com suas frases curtas sustentadas por suspensórios, em crescer e ficar grande e coeso para contar, não de crianças que se perdiam na floresta, mas de dragões e cavaleiros. “Um dia”, pensava ele com seus travessões, “vou ter mais de trezentas páginas”. Como é do costume dos infantes, de paciência não tinha nem uma vírgula. Decidiu, então, que ia crescer mais rápido. Assim, enquanto as cantigas-de-amigo brincavam de roda, passou dias e dias tomando as providências: tomou muita sopa de letrinhas, brincou de nome-lugar-objeto até enjoar, devorou todos os brotos de fábulas que encontrou pelo caminho — tudo isso para ganhar mais palavras e se tornar um grande e novelesco romance. Mas a Natureza é sábia no seu tempo, e o continho-de-fadas empanturrou-se demais e ficou tonto, meio confuso, e acabou perdendo a coerência. Resultado: na pressa, engoliu tantas palavras aleatórias e formou tantas frases sem sentido que, em vez de romance, terminou obeso e disforme como tese-de-doutorado, coitado!
Moral: Devagar se chega a romance.