terça-feira, 31 de março de 2009

Quando Ouvi o Douto Astrônomo

Quando Ouvi o Douto Astrônomo
(Tradução de Heber Costa)

A Esman Dias

Quando ouvi o douto astrônomo;
Quando dependuraram-se números e evidências em colunas ante mim;
Quando mostrou-me gráficos e diagramas, para somar, dividir e mensurar;
Quando eu, sentado, ouvi o astrônomo,
na sala donde palestrava sob os louvores;
Quão rápido, inescrutável, fiquei cansado e enfermo;
Até que ascendesse e declinasse, vaguei solitário
no místico sereno ar noturno
e, de tempos em tempos, olhava as estrelas
no mais perfeito silêncio.


When I heard the Learn’d Astronomer
[Walt Whitman (1819–1892), do livro Leaves of Grass]


When I heard the learn’d astronomer;
When the proofs, the figures, were ranged in columns before me;
When I was shown the charts and the diagrams, to add, divide, and measure them;
When I, sitting, heard the astronomer, where he lectured with much
applause in the lecture-room,
How soon, unaccountable, I became tired and sick;
Till rising and gliding out, I wander’d off by myself,
In the mystical moist night-air, and from time to time,
Look’d up in perfect silence at the stars.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Esperando um Satélite

Olhando para o céu, entendo porque os antigos relutaram tanto em abolir a idéia de que as estrelas giravam em torno da Terra numa esfera fixa de cristal. O céu, não por acaso chamado de firmamento, é aonde eu vou quando estou sem chão. Numa escala humana, ali tudo é certo, tudo está como sempre foi. Os antigos sabiam disso. Para eles, aquilo tinha um nome: certeza. A bolha que impede que o vazio do universo entre em nós. Deitado, deixo-me recobrir por esse manto de certezas e previsibilidade. E espero. Hoje, espero um satélite. Quando a relatividade de tudo que vivemos me bagunça, eu volto para o que é certo. O que sinto quando espero um satélite é um misto de esperança, ansiedade e, por fim, completude. Eu sei. Eu sei que, às 18:45, o Lacrosse4 (uma luzinha tímida) irá emergir no horizonte de minha incerteza, descrever uma trajetória inalterável na abóbada e gradualmente iluminar minhas dúvidas. Quando ele finalmente se apagar, terá levado consigo uma desesperança febril que me acomete nos fins de tarde. Afinal, o que é a esperança senão a certeza de que, a despeito de tudo, uma luz irá surgir no horizonte?