Enquanto sinto no ouvido o uivo do vento envergando um violino grave, levanto os olhos e penso ver uma lápide. Na verdade, estou deitado na cama há uma infinidade de horas. Nessas horas, fecho os olhos e sinto minhas pupilas se abrindo num país de trevas pacíficas, livres do diariamente. Não ouso dizer que a vida é ruim. Às vezes, ruim é ser todo dia. É um estado de semi-morbidez. Sinto a angústia, minha melhor amiga (já que inseparável), retumbando descompassada no meu peito — o único sinal de que há um coração enraizado neste corpo de terra estéril. Distraído, não percebo fugirem as lágrimas que aprisiono num poço que desce pela minha garganta. Isso basta para que os lençóis lagrimados se transformem um pântano movediço de uma tristeza imbatível, um inimigo cuja maior força é minha fraqueza. Depois de muito lutar, me permito afagar as mágoas nesse sagrado silêncio que me segrega do mundo. Pelo menos, por um dia.
Escrito ao som de I Got to Sleep, de Sia.