sábado, 14 de novembro de 2009

Sinais celestes

Onde estás? Onde? Dizem que está nas flores, nos homens, nos gatos... mas não te vejo. Recebi tuas ordens, um memorando, testamento antigo de herança deixada de um pecado indelével. Estou aqui, chorando, e gostaria de saber se devo parar tudo, se devo voltar do “ide e pregai”? Vejo uma razão que tudo explica, tudo vê, tudo ouve, uma ciência onisciente e um Deus imóvel, imaculado, de mãos atadas pela teoria das cordas e buracos negros. Só um pouco de tua clareza para incendiar minha escuridão, porque estou cansado e preciso ver algo. Não precisa ser um arbusto flamejante de uma fé patriarcal, preciso só de um sinal: qualquer coisa que baste a um coração despreparado. Se me fosse dada ao menos uma de tuas faces — nem precisa ser a outra —, me recobriria do teu manto de bênçãos. É triste quando a bênção maior de uma alma é pensar que na ponta de uma corda reside a porta de universo sem deuses. Mas quando será? Pode ser hoje ou no dia de talvez. Que me chames alto e digas meus pecados, que não sou digno. Talvez eu esteja querendo um casamento do céu com o inferno, da mais divina e pura paixão mundana, do mais profano sacramento com a mais santificada heresia. Não escreverei nem mais um verso até que me digas que devo seguir. Isso é só porque não te sinto mais. Estou acuado, estou sob um holofote celeste, focalizado pelas estrelas, testemunhas que me acusam e apontam cada passo mal dado. Cansei de ser semente. Deixa-me crescer planta e ver um sol de redenção, que seja amor e gentileza, chuva após a seca. Basta de exigências deste corpo que não pode mais. Se hás de ceifar-me porque fraco, que comece a colheita.


Inspirado em Anything e The Lines of My Earth, do Sixpence None The Richer.