domingo, 15 de maio de 2011

Os Cegos e o Elefante



John Godfrey Saxe (1816-1887)

(tradução de Heber Costa)


Seis homens do Hindustão
Mui devotos da cultura
Foram ver o Elefante
(Inda que de vista escura)
Cada qual, observando,
Queria uma verdade pura.

O Primeiro se aprochegou,
Mas, tropeçando numa galha,
Deu com largo e duro flanco
e grasnou como uma gralha:
“Valha-me, deus! O Elefante
É uma espécie de muralha!”

O Segundo, sentindo a presa,
Proclamou com confiança:
“Liso, pontudo e robusto assim,
Tenho plena segurança:
O tão famigerado Elefante
É uma espécie de lança!”

O Terceiro chegou ao animal
E, pegando por acidente
A úmida tromba nas mãos,
Exclamou, incontinente:
“Na minha visão, esse Elefante
É uma espécie de serpente!”

O Quarto esticou a mão ansiosa
E sentiu o joelho de pronto.
“A natureza desta fera mágica,
Neste momento vos conto:
Sem sombra de dúvida, o Elefante
É uma espécie de tronco!”

O Quinto acaso tocou a orelha
E disse “Até um cego insano
Diria a resposta sem titubeio;
Não há perigo de engano:
Este prodigioso Elefante
É uma espécie de abano!”

O Sexto mal tinha começado
A fazer na fera o exame,
Quando, a cauda agarrando,
Anunciou como a um ditame:
“Asseguro que o Elefante
É uma espécie de cordame!”

Assim tais homens hindustanos
Discutiam duro todo dia,
Cada qual que opinasse
Com mais sanha e selvageria.
Inda que em parte certos,
Nenhum a verdade sabia!

MORAL.
N’alguns embates teológicos,
Cada debatedor insensato
Prosa em pura ignorância
Do que diz o outro incauto
Tagarelando de um Elefante
Que ninguém viu de fato!

***

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