sexta-feira, 20 de março de 2009

Esperando um Satélite

Olhando para o céu, entendo porque os antigos relutaram tanto em abolir a idéia de que as estrelas giravam em torno da Terra numa esfera fixa de cristal. O céu, não por acaso chamado de firmamento, é aonde eu vou quando estou sem chão. Numa escala humana, ali tudo é certo, tudo está como sempre foi. Os antigos sabiam disso. Para eles, aquilo tinha um nome: certeza. A bolha que impede que o vazio do universo entre em nós. Deitado, deixo-me recobrir por esse manto de certezas e previsibilidade. E espero. Hoje, espero um satélite. Quando a relatividade de tudo que vivemos me bagunça, eu volto para o que é certo. O que sinto quando espero um satélite é um misto de esperança, ansiedade e, por fim, completude. Eu sei. Eu sei que, às 18:45, o Lacrosse4 (uma luzinha tímida) irá emergir no horizonte de minha incerteza, descrever uma trajetória inalterável na abóbada e gradualmente iluminar minhas dúvidas. Quando ele finalmente se apagar, terá levado consigo uma desesperança febril que me acomete nos fins de tarde. Afinal, o que é a esperança senão a certeza de que, a despeito de tudo, uma luz irá surgir no horizonte?

7 comentários:

Unknown disse...

Agora encontrei alguém para ver comigo satélites e contar historinhas de constelações até dá uma dorzinha no pescoço. Gostei do texto.

=****

Anônimo disse...

Eita, me lembra as noites no telhado... Bons tempos de almas tranquilas!

Anônimo disse...

Heber, a cada dia você escreve melhor!
Abraço.
Paulo Gustavo

Tempo Temporã disse...

Tudo que está acontecendo comigo agora. Ler esse texto foi um alento. Como sempre digo adoro o que vc escreve. Me lembrei um pouco do Pequeno Príncipe...

Malthus disse...

Muito bom o texto, monstro. abraço

Ju Rivas disse...

Muiiito bom, to adorando tudo que to lendooooo ate agora!!!

Liliane disse...

Adorei! Também vivo esperando satélites, essas luzinhas trêmulas e certas que nem sempre me encontram acordada...