Primeiro, você. Você vai fazer compra? Eu devia
ter percebido a distância multiplicada nas letras. Teu tu pessoal, relativo
à intimidade, declinou para outro pronome, de tratamento estranho, com pompa e
circunspecto, do caso sério. Tu não era assim. Eras. Há eras que nossa vida era
paleozoica. Tudo era esse mesmo imperfeito, esse presente que ficou no
pretérito... Busco sinal, signo ou símbolo que mostrasse este futuro. Encontro
um marco da queda de nosso amor bizantino: o sumiço dos teus vocativos. Vou sair.
Também vou sair, amor. O meu se pendurava nas últimas vírgulas, adiando o ponto
final. Mas já subia a muralha entre nossa idade antiga e a meia idade. E meu
vocativo ficou cá, oriental, sem coca-cola nem outras benesses do teu
capitalismo. No hiato dos dias, as falas se repetiam — as tuas como farsa, as
minhas como tragédia — no jogo coreografado do tempo. Até que, por fim, teu
verbo conjugal restava inflexível, ficou história. E minhas palavras foram apenas eco dos
teus últimos silêncios.
Um comentário:
Excelente, Heber! :)) Gostei muito!
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