domingo, 30 de dezembro de 2007

Dia Cheio

Vinha de beber. Mas era pouco. Foi só pra recordar todos aqueles momentos inesquecíveis, já que saudade não tinha nem um suspiro. Pensara em morrer certa vez. Um banheiro branco, close na gota de sangue, uma carta de três palavras. Ia pensar. Tinha que saber se morrer era somente. [[Moça!]] Tinha que passar na casa de papai. Já fui? E o negócio da máquina, já faz uma semana. Depois encontrar as meninas no bar... Ai, não tenho nenhuma roupa pra usar! O endereço... acho que era... Rua Alaíde Conejo. Vou dar isso mesmo. Ela nem apareceu no meu. [[Moça!]] Que cansaço dessa inevitabilidade de ser. Era isso: queria alforria de si. Era governante absolutista de uma autocracia totalmente democrática. Acho que mamãe é o Congresso. Ou a Câmara. [[Estamos perdendo ela!]] E Felipe? Acho que dessa vez vai. Nunca estive com pessoa assim. Nem assim com pessoa. Gostava de contar-lhe os cílios indeterminavelmente apinhados. Coisinha trabalhosa. Podia ficar horas naquela tarefinha irritante e maravilhosa. Piscou. Começar tudo de novo. [[Abra os olhos!]] Deixa ver. Tem que entrar aqui. Vi na cara dela que ela não gostou do presente. Suas relações exteriores estavam muito ruins. Quase todas fundadas em acordos unilaterais. Tinha que romper relações diplomáticas com toda a Europa Oriental, leia-se: Fatinha e a família dela. [[Olhos abertos! Ouviu!?]] Achava que amava: negócio de cantar baixinho lembrando do outro, silêncio aconchegante olhando do olho, crítica sem julgamento... Só faltava a vida. Vida que não seja mononucléica. Nada de fagocitose de desaforos. [[Pulso!]] Como vou dizer isso? O conflito por si só já é a derrota. A fervura das forças crescendo e a perspectiva do obstáculo eram-lhe suficientes para vaporizar-se de viver. [[Segurem ela! Calma!]] Preferia um bisturi, cromado. Luz branca. Já sei as palavras. "Eu não vivi." Perfeito. Mentira. [[Agüente!]] Queria que isso dissesse tudo. [[Estou aqui, moça!]] Mas é o não-dito, o mal-dito, que eu não queria dizer. Odeio dirigir à noite. Saco. Sinal fechado. [[Responda!]] "Não, moço, tenho trocado não." [[Agüente firme!]]--istola calibre .22. Enferrujada. [[Pupilas dilatadas]] Anderson falou que isso é uma "garruchinha". Ele só queria ser o--. Um som escuro, quase rígido de tão novo. Celular. 1-9-2. [[Não tem mais pulso]] Não sabia que morrer era tão só. [[Foi corajosa!]] Não. Só tinha um celular à mão. Não sabia que morrer era tão-só.

3 comentários:

Malthus de Queiroz disse...

Shit, man. That`s it!!! Esse conto-texto-escrito-de-diário foi DUCARALHO!!!

Luiziana disse...

Sei...

...NEVER was one for a prissy girl
coquette Call in for an ambulance
Reach high doesn´t mean SHE´S holy just means She´s got a cellular
handy
almost Brave
almost pregnant
almost, ya know
in love. "VANILLA" Vanilla. né?!!

Unknown disse...

lembra muito as coisas que a gente escrevia outrora...muito bom!