segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O Conto-de-fadas que Queria Ser Romance

Era uma vez, num reino muito, muito longe, a muitas e muitas palavras de distância, um conto-de-fadas bem pequenino que queria ser romance. Mas não um desses romances que não param em pé na estante. Queria ser um Romance! O pobrezinho não era muito bem pontuado — era até meio feio —, mas vivia suspirando e sonhando, com suas frases curtas sustentadas por suspensórios, em crescer e ficar grande e coeso para contar, não de crianças que se perdiam na floresta, mas de dragões e cavaleiros. “Um dia”, pensava ele com seus travessões, “vou ter mais de trezentas páginas”. Como é do costume dos infantes, de paciência não tinha nem uma vírgula. Decidiu, então, que ia crescer mais rápido. Assim, enquanto as cantigas-de-amigo brincavam de roda, passou dias e dias tomando as providências: tomou muita sopa de letrinhas, brincou de nome-lugar-objeto até enjoar, devorou todos os brotos de fábulas que encontrou pelo caminho — tudo isso para ganhar mais palavras e se tornar um grande e novelesco romance. Mas a Natureza é sábia no seu tempo, e o continho-de-fadas empanturrou-se demais e ficou tonto, meio confuso, e acabou perdendo a coerência. Resultado: na pressa, engoliu tantas palavras aleatórias e formou tantas frases sem sentido que, em vez de romance, terminou obeso e disforme como tese-de-doutorado, coitado!

Moral: Devagar se chega a romance.

8 comentários:

Thays Brayner disse...

O bichinho.....deveria ter dosado....kkkkk. Criativíssimo. Adorei. Bjus.

Anônimo disse...

hehehe Muito massa, velho! Isso explica muita coisa que se vê por aí na literatura. abraço

Unknown disse...

Adorei, muito bom. Que triste é a academia! Cuidado,vi? Lovely, lovely!
bjus

Ju Machado disse...

Muuuuiiitooo bom!!!
A gente que tome cuidado p/ transformar em Romance apenas o que for equilibrado.

Ô tarefinha complicada...

Catarina de Queiroz disse...

kkkkk. Gostei muito. Além de textos assim, podemos achar músicas. Bjs

theo costa disse...

boa......isso serve pra muita redundância que se vê por aii...

Malthus de Queiroz disse...

Ei, minino. Bóra ver a atualização desse blogue.

Liliane disse...

Então é assim que se constroi uma tese... Gostei de saber! rsrsrsrsrs Muito bom, Heber, um texto quase sem amargura. Não fosse a tese, esse monstrinho. rsrsrs