sábado, 19 de setembro de 2009

O Dia de São Valentim

Neste leito frio e passageiro que corre inevitável para o mar onde os males se esquecem, deitei o barco de minhas esperanças e não mais o vi. Por seus olhos, discurso, espada fui mortalmente trespassada, e meu primeiro rubro amor dormiu em lençóis de realeza. Oh, minha doce, doce ingenuidade! Foste sacrifício abraaônico, carneiro imaculado que tomou lugar de um amor sem bênção. Meu príncipe de perfume gentil, hoje me sopra somente um desprezo inodoro. Prometeu-me a primeira flor da primavera, prazeres sem palavras; mas nos campos encontrei só pétalas apáticas de um amor que mal-me-quer. Oh, amor infeliz, cuja semente pousou em terra estéril somente para ser sufocado pela loucura daninha. Ele se foi, se foi e não mais voltou. Só me resta segui-lo pela estrada cristalina que começa no poente e finda no mar sem fim. E as ervas e flores malditas serão a coroa bastarda do meu reino de um só dia — pois deitei-me e fui para sempre rainha no dia de São Valentim.

4 comentários:

Andrea disse...

Sensível, delicado e intenso como a própria personagem. Que lindo!
=****

Luiziana disse...

Adorei!

Liliane disse...

Só mais uns textos e vc vai ter descrito todas as facetas de uma desilusão... e descrito bem. Beijo.

Malthus disse...

Bóra, monstro. Conheço essa história, só que da outra perspectiva: a de quem partiu. abraço