quinta-feira, 7 de maio de 2009

Apenas uma Vez

Se fossem só olhares críticos, estaria bom. Se fosse só a placidez torturante e silenciosa dos jantares esfomeados pelo trabalho e o desinteresse pela meia-idade já meio velha de meu corpo.

Se fosse apenas uma noite adúltera a cada três dias... Se fosse. Se fossem apenas xingamentos esporádicos contra minha família, apenas repúdios sinceros contra meus carinhos, apenas uma estupidez embebida de whisky, apenas um bafo sujo de deboche... Se fossem só maus tratos aos meus filhos, flertes com vizinhas vadias. Se fosse só uma lágrima por dia, só um tapa no rosto por semana. Se fossem só covardias de uma alma torpe, picardias de um corpo infame, vilanias de uma mente vã.

Ah... fossem só insultos à minha pessoa triste...

Se fosse apenas uma vez, talvez seu nome fosse apenas uma página de cartório de uma memória esquecida. Talvez sua carne não chorasse agora, aos borbotões, a toda a maldade rubra que coloria seu peito de uma valentia falsa. Talvez esta faca não tivesse vasculhado fundo suas entranhas buscando a coragem inexistente de um homem perverso. Talvez.

4 comentários:

Malthus disse...

Vou criar um software de análise para os escritos de Heber: os relatórios serão sempre "Muito bom texto" (pra ver se eu evito me repetir tanto). Parabéns, monstro. A poética tá excelente. uhuuuuu

Unknown disse...

O meu software seria: "Meu orgulho!".

Tempo Temporã disse...

Mas se...

Luiziana disse...

adorei essa estoria de vasculhar entranha com faca pra procurar coragem.